PARISCOPIO

Uma brasileira em Paris

sexta-feira, julho 20, 2007

Mente Aberta


Faz milênios que eu nao dava as caras, mas ao abrir o Libê desta sexta-feira, dia 20 de julho, senti-me na obrigação de voltar aqui e deixar um registro deste fato que considero ANTOLOGICO.

A edição de hoje brinca com a abertura promovida por Nicolas Sarkozy, que tem chamado vários socialistas para participar de seu governo. A medida irrita profundamente os líderes do Partido de Segolène Royal e tem provocado o maior bafafá em terras gaulesas.

Substituindo a tinta vermelha do lay-out habitual pelo azul - a cor da direita francesa -, Libération resolveu seguir o exemplo do novo presidente francês a sua própria maneira. O jornal de esquerda abriu as paginas para diversos jornalistas e editorialistas de orientaçao política conservadora. Eles foram convidados a relatar e comentar os assuntos do dia.

A melhor de todas, na minha opinião, foi a coluna de Nicolas Beytout, o editor-chefe do jornal direitista Le Figaro, intitulada Si j'étais de gauche... . Aqui vao alguns trechos:

"Se eu fosse de esquerda, buscaria um jeito de usar idéias dos meus adversários assim como eles roubaram nossos mais belos valores."

"Se eu fosse de esquerda, reconheceria que Sarkozy conseguiu promover com habilidade e destreza a abertura que Segolène Royal defendeu de maneira estabanada e improvisada."

"E, sobretudo, se eu fosse de esquerda e leitor de Libération, adoraria o jornal Le Figaro."

sexta-feira, maio 18, 2007

Video Despedida do Chirac

Jornal das Dez

sábado, abril 28, 2007

Filha Coruja

Resenha do livro "Faz que não Vê", do Altamir Tojal (editora Garamond), no JORNAL DO BRASIL. Sou filha coruja mesmo.

segunda-feira, abril 23, 2007

Madame ou Monsieur le Président?

Deu o resultado previsível: duelo Segô-Sarkô no segundo turno. As pesquisas mostram que o candidato da direita tem mais chances de ser eleito, mas a votação é só no dia 6 de maio. Até lá tudo pode mudar. Assista ao vídeo, no Jornal das Dez da Globonews

Operação sedução
Os dois rivais têm duas semanas pela frente para seduzir o eleitorado dos outros dez candidatos que foram eliminados ontem. Alguns, como os da extrema esquerda, já anunciaram de que lado vão estar no segundo turno. Ou melhor: de que lado NÃO vão estar. Tanto José Bové, o famoso destruidor de lanchonetes do McDonalds, quanto Olivier Besancenot, o carteiro comunista, convocaram seus eleitores a eliminar Sarkozy. Para quem não conhece, Besancenot trabalha nos correios da cidade de Neuilly, onde mora o candidato conservador. E é ele quem entrega as cartas do homem que tanto detesta. Imaginem a quantidade de correspondências extraviadas!!!

O homem-chave
Mas Segolène e Sarkozy estão de olho mesmo é no apoio do centro. Está aberta a temporada de caça aos eleitores de François Bayrou, que obteve quase 19% dos votos. O centrista foi a grande dor de cabeça de ambos nessa campanha. Há algumas semanas ele quase empatou com a socialista nas pesquisas. Se chegasse ao segundo turno, tinha grandes chances de desbancar Sarkô.

Suspense
Agora tanto a esquerda quanto a direita cobiçam Bayrou porque sabem que o eleitorado dele vai ser o fiel da balança no segundo turno. Mas no discurso que ele fez ontem reconhecendo a derrota (mas com um enorme sorriso estampado no rosto) o centrista fez mistério. Disse que só vai revelar seu escolhido - ou sua escolhida - daqui a alguns dias. Enquanto ele não se manifestar, nada está decidido.

Euforia
Logo após a divulgação das primeiras estimativas de boca de urna, Nicolas Sarkozy, eufórico, agradeceu os onze milhões eleitores que votaram nele (31,1%). E prometeu ser o candidato de TO-DOS os franceses.

Músculos contraídos
Mais de uma hora depois, foi a vez de Segolène Royal. Ela apareceu de vestido branco, sua marca registrada, e subiu no palanque meio tensa. Com os músculos do pescoço completamente contraídos e uns movimentos de braço bem esquisitos, disse que vai estender a mão a todos aqueles que consideram urgente sair de um sistema que não funciona mais. Num ataque velado ao adversário da direita, declarou que não há progresso econômico sem avanço social. E que se recusa a alimentar o medo dos franceses.

Mobilização recorde
As eleições deste domingo foram marcadas pelo maior índice de participação dos últimos 40 anos. O voto aqui não é obrigatório, mas 85% dos eleitores compareceram às urnas.

O recorde se deve em boa parte ao trauma de 2002, quando o alto índice de abstenções favoreceu a ida da extrema direita de Le Pen para o segundo turno. Outro fator foi a grande mobilização da juventude. Depois das revoltas de 2005, milhares de jovens, sobretudo dos subúrbios, descendentes de imigrantes, resolveram tirar o título de eleitor e votar pela primeira vez.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Riô e seus apostos

A morte dos três franceses no Rio foi notícia em todos os jornais daqui. Um argumento a mais para quem me perturba com essa história de «Riôôôô, oh mon dieu!!! C’est dangereux!!!». Não digo que não é verdade. E claro que a violência está pegando, mas neguinho acha que é guerra civil, que não se pode sair na rua. Anyway, o que me irrita mais é que nas matérias de jornal e TV, a palavra Rio nunca vem sozinha. Tem sempre um aposto do tipo «uma das cidades mais violentas do mundo» ou «conhecida por seus crimes a mão armada» etc. Outro dia estava assistindo ao telejornal e passou uma reportagem linda sobre o desfile na Sapucaí. Fiquei toda-toda até que no fim da matéria o jornalista manda: «Uma festa que cai bem, num dos lugares mais sangrentos do planeta»... Geeeente, «um dos lugares mais SANGRENTOS do planeta»???? Se eu tivesse ligado a televisão naquele momento acharia que o cara estava falando do carnaval no Iraque!!!


Riô, capital do Brasil

O Le Figaro é um dos melhores jornais da França na minha opinião, mas hoje ele me deixou de mau humor. Como se não bastasse esculhambar o Rio, disse que a cidade é a capital do Brasil. Vous parlez Français? Eis a prova em imagem :

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Safanões e afins

Outro dia um apresentador de TV famoso aqui teve um acesso de fúria num avião indo para Joanesburgo e teve que sair algemado. O cara encheu o saco de todo mundo, gritou, esperneou… enfim, aquele barraco! Foi mais ou menos o que aconteceu com o ator… whatshisname… André Gonçalves uns tempos atrás. E, se não me engano, com o Pelé, idem.

Pois bem, o piti do françois serviu de gancho para uma matéria no Le Figaro revelando que esse tipo de crise é comum: mais de cinco mil casos são registrados a cada ano!!! Esse número tinha caído bastante depois dos atentados de 11 de setembro: 11% menos atos de « incivilidade » a bordo e uma diminuição de 35% na gravidade dos « incidentes ». Tenho para mim que a galera estava se contendo mais, cada um na sua, pianinho, para evitar ser confundido com terrorista e causar uma insurreição como a dos passageiros do United 93… Mas isso são águas passadas, o setor aéreo está de vento em popa, todo mundo voando sem medo e, de quebra, neguinho voltou a soltar a franga sem complexo.

A principal causa dessas turbulências é, claro, o álcool em excesso. Todo mundo conhece a onda que dá uma reles taça de champanha a 10 mil metros de altitude. A rota mais problemática por aqui, segundo o relato de aeromoças e aeromoços, é Moscou-Paris (e vice-versa), o que confirma a fama de beberrão do povo russo. Tem também as viagens de retorno da Republica Dominicana, onde os turistas passam uma semana inteira em resorts “open bar”, que oferecem pacotes com consumo ilimitado de bebidas alcoólicas. Os vôos fretados para trazer equipes de futebol depois de campeonatos costumam ser agitadissimos. Alguns jogadores ficam incontroláveis e as companhias preferem não expor a tripulação feminina, e usar apenas comissários de bordo.

A Air France contratou uma equipe só para analisar o comportamento agressivo dos clientes, com base em relatos do pessoal de bordo. O mais comum são queixas sobre falta de educação, xingamentos e desobediência, como a do indivíduo que se recusa a apertar os cintos ou desligar um aparelho eletrônico. O conselho da companhia é manter o tom cordial e tentar resolver o problema com "psicologia". Em casos extremos, os tripulantes são treinado para agir. A regra é a seguinte: se o sujeito parte para a ignorância, os três comissários mais sarados do avião se juntam e partem para cima do incoveniente, prendendo as mãos dele com uma amarra de plástico e velcro.

No quesito agressão entre passageiros, o mais cotado é o famoso safanão na cabeça do vizinho da frente que “se atreveu” a inclinar a poltrona. Mas tem episódios mais graves, como o do cara que entrou no avião depois de todo mundo e só não foi linchado por ter atrasado a decolagem porque a tripulação interveio a tempo.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Um desses paraísos - Parte IV

Chega de mistério. Este paraíso aí é a Croaácia. Um escândalo de linda. E quanta história...






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Um desses paraísos - Parte III





sábado, outubro 07, 2006

Um desses paraísos - Parte II




segunda-feira, outubro 02, 2006

Um desses paraísos - Parte I




terça-feira, setembro 26, 2006

Faz que não vê

Voltei de viagem, mas engatei direto num ritmo louco de trabalho e ainda não deu para botar as fotos das férias no ar. Prometo fazer isso, no mais tardar, neste finde.

Enquanto isso, deixo aqui o convite para o lançamento de um livro maravilhoso, que tive a oportunidade de ler antes de ir para a gráfica: Faz que não vê, do Altamir Tojal (Ed. Garamond). Ele conta a história de um ex-guerrilheiro que se converte em yuppie nos anos 90 e se envolve numa trama em que se misturam negócios, política e crime. É um thriller político de alta voltagem, que tem como pano de fundo o universo do poder.
Ok, ok, o autor é o meu pai, mas juro que não é corujice. A propaganda é sincera: o livro é sensacional, daqueles que te prende do começo ao fim, bem escrito, estilo original etc. etc. etc.
O lançamento será nesta quarta-feira, dia 27, no Espaço Constituição (Rua da Constituição, 34, Centro). Vai ser um lance diferente... um talk show conduzido pela jornalista Sheila Kaplan, a partir das 19 horas, e depois a sessão de autógrafos com jazz ao vivo como fundo musical. Quem está no Rio deveria passar lá!

Esta matéria foi publicada no Globo de hoje. No fim de semana, os cadernos de literatura Idéias (JB) e Prosa e Verso falaram do livro. Também saiu nota na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, no Globo.

Este é o convite para o lançamento. Dêem um pulinho lá depois do trabalho!

quarta-feira, setembro 06, 2006

V de Viver

Desculpe, abandonei o blog sem dar explicacoes. Mas a causa e justa. Tirei ferias (merecidas) e so volto na semana que vem. Nao vou contar ainda onde estou agora. Prefiro fazer suspense, assim vcs terao que voltar neste blog para matar a curiosidade... hehehe. So posso adiantar que e um paraiso e que pouquissimos brasileiros conhecem. Enquanto isso, deixo as palavras do meu amigo Frederico, que, num momento de grande inspiracao antes de partir para Buenos Aires, escreveu esta maravilha:

Vou viajando, vendo várias vertentes. Veredas vicinais, viagens visuais. Vi vitrines, via-sacra, viacrúcis. Viadutos, vielas, vilas, vulcões, vivandeiras. Vi vigor, vontade, verdade valorizada. Vitória. Viagens. Videira, vindima. Vinho viscejante valorizado, varietal, viço vespertino. Visei vidros vermelhos, verdes, variados. Viviane, Verônica, Vanessa, Valéria, Valquíria: Virgens vestais vestindo véus vibrantes, vestuário vetusto viabilizando vibrações...
Você viaja, vê vocábulos “vips”, vozes vigentes, vinhetas versadas. Veloz, velejei valentes vagas, ventania verberando velame . Varonil, visitei verdejantes várzeas. Vi variantes, versões. Vaguei verdejantes vales, vilarejos. Viajei viaturas, vapores, vagões, viações.

Viajar: vale vinte vinténs? Viajar: valiosa, venturosa vivência. Ver, voltar, vice-versa: vício vitalício. Vida.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Perco a vida mas não perco a piada!

A Alemanha, tão traumatizada pelos horrores da Segunda Guerra, está aos poucos espantando seus fantasmas. Tanto é que uma editora alemã acaba de publicar um livro sobre o humor na era nazista. Uma espécie de coletânea de piadas que eram contadas na época do Hitler, sobre o Hitler, derrubando mais um tabu no país.

Tem, por exemplo, aquela do Hitler visitando um hospício e sendo recebido por todos com a famosa saudação nazista. Ao passar pela fila de pessoas com os braços erguidos, o ditador percebe que uma mulher não esta saudando e pergunta: "Por que você não está fazendo como os outros???" Na maior naturalidade ela responde: "Porque eu sou a enfermeira, oras, nao sou louca!!!"

Pode até não ser a piada mais engraçada do mundo, mas o autor Rudolph Herzog conta que anedotas como essa eram contadas abertamente nos primeiros anos do Terceiro Reich. Ele explica que elas funcionavam como uma espécie de terapia para a população, ajudando as pessoas a aliviar a enorme pressão em que viviam.

Mais para o final da guerra, contar uma piada assim virou motivo para pena de morte. O livro relata a história de uma empregada do departamento de munições do governo nazista que não resistiu e contou a seguinte:

O Hitler e o Hermann Göring estavam no topo da torre de radio de Berlim. O Hitler vira pro Göring e diz: "Eu queria tanto fazer alguma coisa para animar o povo desta cidade". E o Göring responde: "Por que vc não se atira aqui do alto???"

Um colega que ouviu denunciou a engraçadinha às autoridades. Depois de julgada e considerada culpada pelo crime de "obstrução dos esforços de guerra" por seus comentarios sarcásticos, a mulher foi executada em 1944.

Perdeu a vida mas não perdeu a piada...

quinta-feira, agosto 24, 2006

Depressão cosmica


Plutão, coitado, foi mesmo rebaixado. Não teve jeito. Bem que alguns astrônomos tentaram dar um jeitinho, alargar a categoria dos planetas e trazer outros corpos celestes para a primeira divisão do sistema solar, com o lema "acrescentar três para não perder um". Mas a idéia acabou sendo vetada, agora ha pouco, pelo voto da maioria presente ao congresso astronômico de Praga.
Resultado: como se ja não bastasse ser o menorzinho da turma, largado la nos confins gélidos do universo, o pobrezinho do Plutão caiu para a segunda divisão. Foi relegado a uma nova categoria, a dos planetas-anões. E mole? Ja que é prêmio de consolação, podiam pelo menos ter escolhido um nome melhorzinho, né? Planeta-anão é sacanagem... De quebra, a votação frustrou a expectativa dos três candidatos a subir para o grupo dos grandes (Ceres, Xena e um outro que esqueci o nome). O mais tristinho de todos deve ser o Ceres, que, uns dois séculos atras, viveu momentos de gloria efêmera na condição de planeta, para depois ser rebaixado. A votação de hoje era a ultima esperança de uma volta triunfal. POW! Virou poeira espacial.
ps. Ja pensaram no preju? Todos aqueles livros didaticos voltando pra grafica? E como é que as crianças vão decorar o nome dos planetas agora? Lembra do macete "Minha Velha Traga Meu Jantar, Sopa, Uva, Nozes, Pão"? Pois é, agora meu jantar vai ficar sem pão... :(

segunda-feira, agosto 21, 2006

SACRILEGIO!!!!


Apreciadores das boas coisas da vida, arrepiai-vos! Os europeus estão enchendo o tanque com vinho francês!!! Eu é que não queria estar no Olimpo numa hora destas. O deus Baco deve estar enfurecido!

Mas como um sacrilégio desses está sendo autorizado em plena pátria do vinho??? Culpa da crise, oras. Com a queda vertiginosa do consumo e dos preços da bebida, os vinicultores da França se viram obrigados a transformar parte de sua produção em combustível.

A crise no setor é tão grave que, no ano passado, alguns supermercados franceses chegaram a vender garrafas de vinho mais barato que água mineral. Desesperados, centenas de produtores foram às ruas protestar. Resultado: para tentar levantar os preços irrisórios, e regular o mercado, o governo francês pediu à Uniao Européia autorização para destilar o equivalente a mais de 150 milhões de garrafas. E não foi só vinho de má qualidade, não. Os bem cotados Bordeaux e Cotes du Rhône também viraram álcool.

A transformação do vinho em etanol é uma tendência em toda a Europa. Em 2005, cerca mais de 3 bilhões de litros do produto foram tranformados em combustível. Por enquanto essa energia é utilizada basicamente em máquinas da indústria. Mas com tanto vinho sobrando, não deve demorar muito para que a prestigiada bebida seja saboreda também por motores de carros.

Na França, aliás, isso já esta acontecendo. O etanol produzido hoje no país é vendido a destilarias e usado como aditivo. A proporção da mistura com a gasolina ainda é baixa, de 1%, mas deve aumentar gradativamente nos próximos anos. O problema, segundo especialistas, é que o teor alcóolico da uva é sete vezes inferior ao da beterraba (normalmente utilizada nesse processo). Mas já há pesquisas sendo feitas para desenvolver técnicas de destilação capazes de elevar os níveis de álcool a partir do vinho.

Para entender a crise no setor vinícola europeu, basta olhar para a concorrência acirrada de produtores emergentes como a Austrália, Chile, Estados Unidos e Africa do Sul, que oferecem vinhos cada vez melhores por preços muito mais acessíveis, sobretudo com a valorização do euro.

Em 2004, a Europa viu suas exportações de vinho cair cerca de 5% de um ano para o outro. Como se não bastasse, os europeus não se fazem de rogados e bebem, sem complexo, garrafas vindas do novo mundo. Com isso, as importações crescem num ritmo médio de 10% ao ano.

Aqui na França, além da dificuldade de concorrer com esses vinhos estrangeiros, bons e baratos, ainda tem um fator interno para piorar a situação: os próprios franceses estão bebendo cada vez menos. Em 1960, eles consumiam em média incriveis 100 litros por ano ! Agora esse numero caiu quase que pela metade.

Uma das causas dessa queda no consumo é (acreditem!) o programa de prevenção de acidentes nas estradas, que aumentou os controles de embriaguez e endureceu as penas. Ou seja: o medo do bafômetro fez com que muita gente aqui abandonasse o velho hábito de beber (vinho, e não água!) durante as refeições. Principalmente em restaurantes.

Claro que os franceses continuam bebendo MUITO. Mais de 50 litros por ano, o que lhes garante o primeiro lugar disparado na lista dos maiores consumidores do mundo. E, embora muitos aqui encarem a transformação do vinho em etanol como uma medida necessária para diversificar a atividade dos vinicultores e garantir a sua sobrevivência, isso não torna menos dolorosa a idéia de dividir os ancestrais prazeres do vinho com o motor de um carro.

sábado, agosto 12, 2006

Mas que nada

Não sei se ja esta fazendo sucesso no Brasil, mas a nova musica do Black Eyed Peas com o nosso Sérgio Mendes esta em todas as paradas aqui na França. Irado. Vale a pena ver o clipe: http://www.youtube.com/watch?v=IbdzcOomaUc


O antologico "samba que é misto de maracatu, samba de preto velho, samba de preto tu..." em versão hip hop: "Mas que nada, we gonna make you feel a little hotter. Peas and Sergio Mendes heating up sambaaaa..."

quinta-feira, agosto 10, 2006

Entre o voyeurismo e o ócio...

Extra! Extra! Mais números sobre a invasão blogosférica. A última notícia é que meus anfitriões aderiram em massa aos blogs. A França está em primeiro lugar na lista dos países que mais visitam este tipo de espaço. Em maio, 60% dos internautas franceses entraram em um blog, contra 40% na Grã Bretanha e 33% nos Estados Unidos.

A pesquisa mostra ainda que, além de estarem no topo da lista de leitores, eles também são os que ficam mais tempo conectados à blogosfera. Passam, em média, uma hora lendo blogs por mês, muuuuuuuuuuito na frente dos segundos colocados, os americanos, que gastam parcos 12 minutos. Os alemães vêm em seguida, com apenas três minutinhos.

E o fenômeno aqui tem uma particularidade: vários políticos importantes viraram blogueiros, "estabelecendo uma ponte direta com seus eleitores e transformando a vida política do país", escreve, orgulhoso, o jornal Le Figaro.

Tudo muito lindo, tudo muito belo, mas a pergunta que eu faço é a seguinte: será que os franceses são mais voyeurs que os outros? Para começar, foram eles que inventaram essa palavra. E, em praticamente todas as línguas, ela não foi traduzida. Agora, essa súbita paixão pelos blogs só veio reforçar a teoria de que eles curtem espiar a vida alheia como ninguém.

Mas não vamos nos precipitar nas conclusões! Outra explicação plausível é a falta do que fazer. Muitos dizem por aí (não sou eu que estou dizendo!) que o povo francês trabalha menos do que o resto do mundo. Uma reputação que vem, entre outras coisas, de uma legislação trabalhista, no mínimo, generosa. A lei mais conhecida é a que estabelece um máximo de 35 horas de labuta por semana. Ou seja: tempo para navegar na blogosfera é o que não falta.

Voyeurismo ou tempo sobrando? Um não exclui o outro...

quarta-feira, agosto 09, 2006

50 milhões em ação!

Nem precisava demonstrar com números. Eu já sabia. A prova viva sou euzinha e este meu, seu, nosso espaço. Os blogs são uma febre. Uma verdadeira coqueluche mundial.

Se você não acredita, dá uma olhada nos últimos dados da ferramenta de busca Technorati: existem atualmente 50 milhões de blogs no mundo! Isso significa que a blogosfera é hoje 100 vezes maior do que era há três anos. E a cada seis meses que passam, ela dobra de tamanho. Uma progressão que vem sendo registrada desde 2004. Se o crescimento se mantiver nesse ritmo, em fevereiro do ano que vem, vai ter mais de 100 milhões de blogs no planeta. Genteeeeeee, vocês têm noção??? Isso é o que eu chamo de uma invasão blogosférica!!!!

Todo dia 175.000 diários virtuais como este aqui são criados, o que dá uma média de dois a cada se-gun-do! Claro que muitos desses blogs são spam, publicidade disfarçada. Mesmo assim, é MUITA coisa. Para se ter uma idéia mais precisa, cerca de 1.600.000 novos posts são publicados diariamente. A maioria deles, cerca de 40%, em inglês. 31% são escritos em japonês e 12%, em chinês. O espanhol vem em quarto lugar, com apenas 3%. Um mundo pequeno, para o idioma que é o segundo mais falado no mundo. O francês se encontra no mesmo patamar. Já a nossa língua portuguesa está atrás, com 2% do total, empatada com o russo e o italiano.

Mas seja em que idioma for, o fato é que os blogs são um verdadeiro fenômeno. E, se muita gente usa os blogs apenas para dar informaçoes tão relevantes para o futuro da humanidade como o que comeram no café da manhã ou por que brigaram com o namorado, muitos blogueiros preferem usar seus espaços para analisar os principais fatos internacionais.

Alguns desses, por destoar do discurso que se costuma ler na mídia, acabaram ganhando grande repercussão recentemente. É o caso do soldado americano no Iraque que resolveu dar a sua versão da guerra que está lutando. Com um ponto de vista peculiar e surpreendente, e um linguajar franco e direto, ele tem registrado milhares de visitas. Porque no oceano blogófico que inundou a internet, é preciso sobressair à massa para fazer sucesso.

E com a proliferação desvairada desses danadinhos vai ser cada vez mais difícil encontrar leitores para tantos blogs...

terça-feira, agosto 08, 2006

Marca registrada

A famosa cabeçada que o Zidane deu no italiano Materazzi na final da Copa do Mundo continua se revelando um filão lucrativo. A cada dia surgem novos produtos derivados do acesso de fúria que acometeu o Zizou no último jogo do mundial da Alemanha. Primeiro foi um joguinho de internet, que ganhou adeptos no mundo inteiro. Depos foi a tal música satirizando o episódio, que virou o hit deste verão aqui na França. O single já vendeu mais de 60 mil cópias e foram produzidas versões em espanhol, italiano e até japonês. Para completar, o toque de celular no ritmo da canção foi baixado mais de 115 mil vezes na internet.

Agora, o filão esta sendo explorado até na China. Zhao Xiaokai, diretor de uma empresa de marketing esportivo, está faturando alto com a cabeçada mais célebre do mundo. Ele virou dono da cena em que o craque francês agride o zagueiro italiano. E isso mesmo: do-no, proprietário da cena. Pela bagatela de 200 euros, o cara patenteou a antológica cabeçada e a transformou em marca registrada.

Você deve estar imaginando que ele vai acabar sendo processado por uso indevido de imagem, né? Nada disso. O esperto chinês pensou em tu-do e não vai precisar pagar nem um tostão ao ex-camisa 10 da equipe francesa de futebol.

Para se livrar de uma eventual multa por violação de direitos, o empresário teve a idéia genial de registar apenas o vulto do jogador francês batendo com a cabeça. Ele pretende vender camisetas, bonés e sapatos com a imagem. Além disso, vai cobrar 100 mil euros daqueles que quiserem reproduzi-la em seu país. E Zhao Xiaokai conta que ja foi procurado por duas marcas de cerveja, que estão interessadíssimas.

Pois é, a cabeçada do Zidane virou um negócio da China. Literalmente!

De dar inveja ao MacGyver

Desde que Fidel assumiu o poder em Cuba, há quase meio século, a CIA e alguns cubanos exilados vêm tentando todos os planos imagináveis para se livrar do líder. Obviamente, nenhum dos atentados deu certo, mas a criatividade e a engenhosidade de alguns deixaria envergonhados os roteiristas dos filmes de 007. Pílulas envenenadas, charutos tóxicos e moluscos explosivos são apenas algumas das idéias mirabolantes inventadas para matar o presidente cubano.

Fabian Escalante, que durante muito tempo cuidou da segurança do el comandante, contabiliza mais de 600 tentativas de eliminar Fidel. Recém-aposentado, ele decidiu escrever um livro entitulado "638 jeitos de matar Castro". Escalante, que dirigiu o serviço secreto cubano e impediu a concretização de muitos desses complôs, conta com detalhes cada um deles. Um dos mais conhecidos é o charuto-bomba fabricado para explodir na cara do líder cubano. Ou a seringa carregada com veneno, e disfarçada de caneta, que seria usada por um traidor do alto escalão do governo revolucionário. Mas a lista de idéias bizarras não pára por aí.

Conhecendo a paixao de Castro por mergulho subaquático, a CIA recenseou milhares de moluscos do Caribe com o objetivo de achar um que tivesse conchas grandes o suficiente para comportar uma quantidade mortal de explosivos. A idéia era pintar as tais conchas com cores bem vivas e fluorescentes para atrair a atenção de Fidel debaixo d’água. Documentos publicados durante o governo Clinton confirmam que esse projeto realmente existiu, mas nunca saiu do papel. Outro plano relacionado ao hobby submarino de Fidel consistia em fabricar uma roupa de mergulho infectada por fungos que causariam uma doença de pele crônica.

Certa vez, um agente tinha uma pastilha de veneno, guardada na geladeira, para dissolver num milk-shake pedido pelo dirigente cubano. Mas na hora de pôr o plano em prática, ele não conseguiu desgrudá-la do gelo. Perdeu a chance.

Até uma antiga amante de Fidel foi contratada para assassina-lo. Desconfiado, Castro ofereceu seu próprio revólver para que ela cumprisse a missão. A moça, arrependendidíssima, recusou.

A mais recente tentativa séria de assassinato aconteceu no ano 2000, numa visita do líder cubano ao Panamá. A equipe de segurança de Fidel encontrou 90 quilos de dinamite debaixo do palanque onde ele iria falar.

Todos esses atentados malsucedidos acabaram gerando piadas sobre a suposta indestrutibilidade do presidente cubano. Uma delas conta que Fidel recebeu uma tartaruga de Galápagos de presente, mas recusou porque ela vive apenas cem anos. "Esse é o problema dos bichinhos de estimação, vc se apega a eles e os coitados morrem antes de você."

Mas depois da internação de Castro na semana passada, o povo cubano percebeu que seu líder não é tão indestrutível assim. A ironia é que não foi nenhum dos planos mirabolantes que abateu (pelo menos temporariamente) o chefe revolucionário, mas sim a idade e seu debilitado estado de saúde. Dois inimigos que Castro não pode mandar pro Paredón...

quarta-feira, agosto 02, 2006

A teoria do marisco

Hoje é parada séria. Sei que não combina muito com este Pariscópio, que, como vocês já devem ter notado, é um espaço esculhambado. Prefiro assim. Já me basta escrever com seriedade e circunspecção no trabalho. Blog é lazer.

Mas, depois de três semanas acompanhando, consternada, o conflito no Oriente Médio, não deu para continuar calada. Resolvi tocar no assunto, mas sem entrar no mérito da guerra. Não vou debater quem começou primeiro, quem tem mais culpa no cartório etc. Quero apenas escrever sobre o marisco.

Não, não tomei nenhum alucinógeno e nem estou viajando na maionese. É do marisco mesmo que estou falando.

Como disse o jornalista Silio Boccanera no programa Sem Fronteiras, da Globonews, na guerra entre o mar e a rocha, quem sofre é o marisco. E no choque entre Israel e o Hezbollah, quem sofre e sangra é o Líbano. O Líbano é o marisco do atual conflito.

Sob o pretexto de exterminar a milícia islâmica que seqüestrou dois de seus soldados, Israel esta dilapidando um país que acabou de se reconstruir de uma terrível guerra civil. Em poucos dias, as bombas israelenses reduziram a pó um trabalho de décadas. Arrasaram estradas e pontes, explodiram usinas e centrais energéticas, esburacaram a pista do aeroporto internacional de Beirute, novinho em folha, derrubaram prédios e casas e ainda mataram centenas de civis. Sendo que muitas, muitas crianças.

E tudo isso justo agora que os libaneses tinham conseguido enfim se recuperar. A economia, embora ainda frágil, estava florindo. Depois de anos com medo, os turistas finalmente voltaram Líbano. Basta ver a quantidade de estrangeiros que tiveram que escapar quando os bombardeios começaram. Milhares de pessoas do mundo inteiro estavam no país para conhecer as paisagens estonteantes e curtir as praias paradisíacas da “riviera” libanesa. Todos tiveram que interromper as férias por causa da guerra. Um golpe duro para o turismo que tanto tempo demorou a se reerguer. Só Alá sabe quando os visitantes vão se sentir seguros para visitar o Líbano novamente. E quanto tempo o estado vai levar para reconstruir os atributos locais.

A ironia, diz o escritor Mohamed Kacimi no jornal Libération de ontem, é que os Estados Unidos – que pregam e impõem a democracia aos países orientais – cruzam os braços justamente diante do massacre do único país realmente democrático do mundo árabe.

“Um país com jornais, revistas, televisões e eleições livres. Um país em que se pode rezar para qualquer deus, em nome de qualquer religião, sem correr o risco de ser linchado. Um país em que o povo pode sair às ruas para manifestar contra o governo sem medo de ser atingido por balas de metralhadoras, como em Damasco, ou de ir para o xilindró, como na Tunísia. Um país onde mulheres podem tomar vinho e fumar publicamente, em pleno Ramada, sem serem importunadas. Um país onde cinema e teatro não são censurados. Um país onde um grupo de jovens atrizes protagonizava, em árabe, a peça Monólogos da Vagina.”

E tanta liberdade, na opinião de Kacimi, só pode ser vista com maus olhos pelos vizinhos muçulmanos. A teoria dele é que Israel está realizando pela segunda vez o sonho secreto de todos os estados árabes da região: destruir essa cidade “mundana, promiscua e pecadora” que é Beirute. Uma espécie de Sodoma dos dias atuais.

A prova, segundo ele, é que os sauditas foram os primeiros a “aplaudir” a intervenção israelense e que, não por acaso, os mísseis a laser americanos lançados no Líbano partem de uma base na Arábia Saudita. “Não por medo dos xiitas, como eles dão a entender, mas por ódio dessa terra singular onde, apesar dos quinze séculos de guerra e perseguições, a voz dos muçulmanos radicais não conseguiu silenciar os sinos da Igreja.”

Independentemente dos interesses por trás do conflito, o fato é que nesta batalha quem sai perdendo de imediato é o marisco. Mas no longo prazo, Israel, seja ele o mar ou a rocha, também perde. E muito. Ao contrário das principais emissoras de TV ocidentais, os canais de notícia árabes, como a Al-Jazira, não poupam seus telespectadores das cenas mais atrozes e chocantes do massacre. A carnificina no Líbano é mostrada sem qualquer censura. E são essas imagens que vão ficar gravadas na memória de jovens e crianças árabes, que vão crescer atormentados por um sentimento de ódio contra os judeus. Ao atacar covardemente civis libaneses, Israel alimenta o sentimento anti-semita no mundo a sua volta e mostra ser seu pior inimigo.

segunda-feira, julho 31, 2006

Agruras dos não rubro-negros

Eu, que sofro diariamente com a aporrinhação dos nossos algozes futebolísticos aqui na França, sei bem o que Bete, Cláudio, Daniel e muitos outros não-flamenguistas estão sentindo neste momento. Nada pior, depois de perder, que ainda ter que aturar a zoação de quem ganha. No caso do Flamengo, mesmo não sendo torcedor do time derrotado, a vitória é sempre dura de engolir. Nosso time é ao mesmo tempo o mais amado e o mais odiado do mundo. Prova disso é que muita gente que nem é vascaína está sofrendo com mais esta glória do Mengão (né, Bete?!).

Por respeito à dor daqueles que criticaram o meu post anterior (e que representam 50% dos meus 6 leitores), não vou repetir que o Fla é o melhor, nem que estaremos em Tóquio em 2007, nem que o vasquinho é penta-vice do Mengão. Longe de mim querer prolongar o sofrimento de meus queridos leitores!!!

Mas não posso deixar de expor minha teoria: o sentimento dos não rubro-negros não é exatamente de ódio ou desprezo pelo Mengão. Na verdade, é mais uma mistura de frustração e arrependimento. Explico: pouca gente se lembra como, quando e por que decidimos que seríamos torcedores de tal ou tal time. Essa “escolha” normalmente ocorre quando somos muito novos e, na maioria dos casos, quem decide por nós é o pai, um tio, um irmão mais velho... Nos presenteiam com uniformes, roupinhas, bolas e brinquedos nas cores do clube. Quando nos damos conta, já somos torcedores de um determinado time desde criancinha e não tem mais volta. Afinal, não há humilhação maior neste mundo do que ser tachado de vira-casaca. Resultado: aqueles que não tiveram a sorte de terem sido apadrinhados por um flamenguista acabam vivendo eternamente frustrados, sabendo que nunca terão a orgástica experiência de vibrar com um gol do Mengão. Para aqueles que sempre sonharam em silêncio em um dia sentir a emoção de assistir a uma vitória histórica de dentro da torcida flamenguista, aqui vai um gostinho:
http://www.youtube.com/watch?v=ubHrTPMRAHg&search=meng%C3%A3o
http://www.youtube.com/watch?v=7RdHQQzPAxk

sexta-feira, julho 28, 2006

Alegria de ser rubro-negro...

Flamengo bicampeão e Vasco penta-vice do mengão!
Com uma notícia dessas, já até esqueci a derrota da nossa selecinha para a França.
Nos vemos em Tóquio.
Saudações rubro-negras!!!

quarta-feira, julho 26, 2006

Encontro com Iemanjá

Antes de me transformar em quiche lorraine bem passada, fugi do forno parisiense. Me mandei para a casa dos sogros, nos arredores de La Rochelle, cidade que fica no litoral atlântico da França. A condição para encarar o weekend família era passar um dia na famosa Île de Ré (pronuncia-se Rê). Desde que comecei a freqüentar o lar dos progenitores do meu amoreco, venho implorando por um passeio na ilha, espécie de paraíso de ricos e famosos franceses, que fica a apenas 20 minutos de carro da casa deles. Mas, toda vez que eu tocava no assunto, ouvia uma boa desculpa para não irmos. Pedágio caro, engarrafamentos intermináveis, gente demais etc. etc. etc. Desta vez, não quis nem saber de “mas, mas”... Disse ao Marc:

– Quer ver papai e mamãe??? Então avisa – antes de comprar a passagem de trem!!! – que vamos à ilha de Ré! Sine qua non! É pegar ou largar!

E assim, por livre e espontânea pressão, fomos todos, alegres e sorridentes, passar o dia na ilha. Como eu suspeitava, não tinha engarrafamento nenhum. Afinal, o principal meio de transporte em Ré é a bicicleta. Andar de carro por lá é considerado cafona, coisa de quem está totalmente “out”, por fora. Quanto mais velha e surrada for sua bike, mais “in” você é. Pedalar uma sucata enferrujada na ilha de Ré equivale, digamos assim, a dirigir uma Ferrari Enzo em Saint Tropez. Entendeu?

Mas eu, que não sou uma nora tão desnaturada assim, não ia obrigar meus queridos sogros a encarar 50 kilômetros de pedalada. Preferi enfrentar os olhares desdenhosos dos ciclistas e da população local. Se bem que, como diz o ditado, quem desdenha quer comprar. Aposto que aquele desprezo todo escondia uma pontinha de inveja: enquanto eles penavam para fazer rodar pedais enferrujados sob um sol de rachar, a gente passava no bem-bom de um carro confortável e com ar-condicionado.

Seguimos assim, tranqüilos e fresquinhos, durante 25 quilômetros, até o outro extremo da ilha, que é bem fina e comprida. Escolhemos ficar na praia “Conche des Baleines”, ao lado do Phare des Baleines (farol das baleias), o principal ponto turístico da ilha. O guia dizia que é a praia mais bonita da região, mas confesso que fiquei meio decepcionada ao ver um monte de blocos gigantescos de cimento (blockhaus), construídos pelos alemães durante a Segunda Guerra mundial. Além de feios em si, eles estavam todos pichados. Logo saquei que o segredo é sentar de costas para os mostrengos e abstrair que eles existem. Basta ter poder de abstração e fica tudo lindo!

Superada a decepção inicial, fui direto cair naquele mar delicioso. Uma sensação que eu sempre valorizei, mas que passei a venerar depois que fui morar em Paris, sobretudo em tempos caniculares. Nooooossa, não queria sair da água por nada neste mundo. Mas a sogrinha tinha preparado um pique-nique show de bola e eu não ia fazer desfeita. Comemos e depois digerimos dando uma bela caminhada até o outro lado da praia. Passamos por vários pontos nudistas. Cara, que festival de barangos e barangas!!! Cheguei à conclusão de que só fica pelado quem é feio, para evitar situações constrangedoras, if you know what I mean...

Para encerrar o dia de dolce farniente, fomos tomar um drink no porto de Saint Martin. A cidadezinha é meio que a capital da ilha e concentra a maioria dos cafés, restaurantes e bares. Parece que à noite é pura badalação, mas infelizmente não deu para conferir. Tivemos que voltar antes de anoitecer, para “evitar os engarrafamentos”.

Sogrinha lambuzando sogrão de protetor solar
Fim de tarde no porto de Saint Martin
Gostamos tanto que, no dia seguinte, resolvemos sobrevoar a ilha. O sogrão pilota avião monomotor.
Farol das Baleias.
Praia da Patache, freqüentada pelos ricos e famosos. Dá pra sacar pela quantidade de barcos e jet skis, né?

sexta-feira, julho 21, 2006

Paris 40 graus

Todo inverno é a mesma coisa. Não paro de reclamar do maldito frio que adentra meus poros e congela até a minha alma. Fico num mau humor da peste, puta da vida mesmo, em depressão, me perguntando por que diabos eu larguei as praias cariocas por esta cidade cinzenta. A resposta não convence nem a mim mesma, mas eu vou ficando. Diante de tal inércia, só me resta torcer para o verão chegar logo. E prometer, jurar por tudo o que há de mais sagrado, que eu não vou reclamar do calor quando ele chegar.

Mas, sinceramente, está dificil cumprir a promessa. A quentura nestas terras é pior do que no Brasil! E não é so porque aqui não tem aquela brisa do mar fresquinha nem água de coco gelada. O pior de tudo é que lugar nenhum tem ar-condicionado. Pode acreditar. Na maioria dos restaurantes, cafés e bares da capital francesa, simplesmente não existe esse objeto tão corriqueiro no nosso dia-a-dia tupiniquim. Nos escritórios e nas casas das pessoas, também não. É o tipo de coisa que você nem vê vendendo em lojas.

“Por quê?!”, você me pergunta, com ar incrédulo. Respondo: porque o calor aqui só dura dois meses e francês, zura do jeito que é, não vai gastar seus euros com um aparelho que, além de servir pouco, ocupa parte de um valioso metro quadrado. Um argumento, admito, nada desprezível. Basta ver os preços galopantes do mercado imobiliário. Um reles metrinho quadrado em Paris custa entre 5 a 10 mil euros. Traduzindo: o valor do ar-condicionado em si é uma bagatela comparado ao preço do espaço que ele ocupa.

Anyway, a não ser que você curta a sensação de estar constantemente dentro de uma sauna, fuja de lugares fechados. Locais a céu aberto também não proporcionam alívio muito maior, levando-se em conta a ausência de vento na cidade. Quer uma dica? Fique em casa, sentado em frente à geladeira. Com a porta aberta, obviamente!

Mas, falando sério, você deve estar se perguntando, desta vez com ar consternado, o que os parisienses fazem em Paris neste calor infernal (pronto, quebrei a promessa!). A resposta é: não fazem. Porque parisiense mesmo, legítimo, não sobra nenhum para contar história.

Entre os dias 14 de julho e 15 de agosto, só fica aqui quem não pode sair. Por falta de grana ou capacidade de locomoção. Tipo os velhinhos. Por que vocês acham que morreram tantos na época da canícula em 2003? Porque os filhos, netos e outros parentes desnaturados foram aproveitar o verão no bem bom das praias do sul (Saint-Tropez e afins) ou em ilhas paradisíacas no Pacífico, enquanto vovô e vovó ficaram fritando por aqui. Não deu outra: milhares de idosos foram encontrar São Pedro nas portas do céu e os familiares só descobriram quando voltaram das férias. Chegaram a tempo para a missa de sétimo dia e olhe lá!

quarta-feira, julho 19, 2006

Favela Chic ou puxadinho à parisiense

Paris, quem diria, também tem favela. Mas favela aqui é chic. E não estou falando do bar.

Nestes tempos de aluguéis exorbitantes e diárias de hotel impraticáveis, os pobres da capital francesa arrumaram uma solução original enquanto o frio não volta.

Pra que se enfurnar naqueles abrigos apertados e calorentos, quando se pode morar na beira do rio Sena ou no coração de um dos bairros mais chiques da cidade? Sem-teto francês, que não é bobo nem nada, fica com a segunda opção. E não paga nada por isso. A única dureza é escolher um entre tantos endereços chiques!

Já sei, já sei. Você está se perguntando CO-MO construir barracos e puxadinhos em pontos tão nobres. Explico logo: não precisa de cimento nem tijolo. Basta montar uma barraca de camping. São centenas delas, todas verdinhas, espalhadas pelas calçadas da capital. Mas essa favelização padronizada é, na verdade, um acidente de percurso. As tendas que agora pipocam pela cidade foram distribuídas no inverno passado por uma ONG, com o unico intuito de proteger do frio os pobres que não conseguiam lugar nos centros de acolhimento.

Ironia do destino, em época de canícula, ninguém fica do lado de dentro. As barracas têm uma função, digamos assim, de marcar território. Delimitar o terreno de cada um. E, claro, guardar coisas. Todo mundo prefere ficar ao ar livre. Na hora das refeições, o menu costuma ser churrasquinho, regado a muito vinho nacional ou cerveja (que, cá entre nós, desce muito melhor no verão). À noite, nada como dormir em cima de um bom colchão inflável sob o luar e as estrelas, com a torre Eiffel piscando ao fundo e aquela brisa fresquinha...

Como não podia deixar de ser, a novidade estival provocou a ira de muitos parisienses. Ao se deparar com as tendas, muita gente foi correndo prestar queixa e exigir que as autoridades acabem logo com a "mordomia".


Tem parisiense morrendo de inveja: "Onde já se viu casa de ralé tão bem localizada??? Mendigo morando melhor do que moi??? Nananinanão!!!"

segunda-feira, julho 17, 2006

Fogos na Torre

Calma, não é ataque terrorista... A torre Eiffel não foi bombardeada.

Aproveitando que moramos num dos únicos prédios altos de Paris (os franceses morrem de medo de elevador), fizemos uma festinha aqui em casa para assistir aos fogos no dia da comemoração da queda da Bastilha. Uma amiga filmou. Por favor, não reparem os comentários ao fundo: