PARISCOPIO

Uma brasileira em Paris

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Riô e seus apostos

A morte dos três franceses no Rio foi notícia em todos os jornais daqui. Um argumento a mais para quem me perturba com essa história de «Riôôôô, oh mon dieu!!! C’est dangereux!!!». Não digo que não é verdade. E claro que a violência está pegando, mas neguinho acha que é guerra civil, que não se pode sair na rua. Anyway, o que me irrita mais é que nas matérias de jornal e TV, a palavra Rio nunca vem sozinha. Tem sempre um aposto do tipo «uma das cidades mais violentas do mundo» ou «conhecida por seus crimes a mão armada» etc. Outro dia estava assistindo ao telejornal e passou uma reportagem linda sobre o desfile na Sapucaí. Fiquei toda-toda até que no fim da matéria o jornalista manda: «Uma festa que cai bem, num dos lugares mais sangrentos do planeta»... Geeeente, «um dos lugares mais SANGRENTOS do planeta»???? Se eu tivesse ligado a televisão naquele momento acharia que o cara estava falando do carnaval no Iraque!!!


Riô, capital do Brasil

O Le Figaro é um dos melhores jornais da França na minha opinião, mas hoje ele me deixou de mau humor. Como se não bastasse esculhambar o Rio, disse que a cidade é a capital do Brasil. Vous parlez Français? Eis a prova em imagem :

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Safanões e afins

Outro dia um apresentador de TV famoso aqui teve um acesso de fúria num avião indo para Joanesburgo e teve que sair algemado. O cara encheu o saco de todo mundo, gritou, esperneou… enfim, aquele barraco! Foi mais ou menos o que aconteceu com o ator… whatshisname… André Gonçalves uns tempos atrás. E, se não me engano, com o Pelé, idem.

Pois bem, o piti do françois serviu de gancho para uma matéria no Le Figaro revelando que esse tipo de crise é comum: mais de cinco mil casos são registrados a cada ano!!! Esse número tinha caído bastante depois dos atentados de 11 de setembro: 11% menos atos de « incivilidade » a bordo e uma diminuição de 35% na gravidade dos « incidentes ». Tenho para mim que a galera estava se contendo mais, cada um na sua, pianinho, para evitar ser confundido com terrorista e causar uma insurreição como a dos passageiros do United 93… Mas isso são águas passadas, o setor aéreo está de vento em popa, todo mundo voando sem medo e, de quebra, neguinho voltou a soltar a franga sem complexo.

A principal causa dessas turbulências é, claro, o álcool em excesso. Todo mundo conhece a onda que dá uma reles taça de champanha a 10 mil metros de altitude. A rota mais problemática por aqui, segundo o relato de aeromoças e aeromoços, é Moscou-Paris (e vice-versa), o que confirma a fama de beberrão do povo russo. Tem também as viagens de retorno da Republica Dominicana, onde os turistas passam uma semana inteira em resorts “open bar”, que oferecem pacotes com consumo ilimitado de bebidas alcoólicas. Os vôos fretados para trazer equipes de futebol depois de campeonatos costumam ser agitadissimos. Alguns jogadores ficam incontroláveis e as companhias preferem não expor a tripulação feminina, e usar apenas comissários de bordo.

A Air France contratou uma equipe só para analisar o comportamento agressivo dos clientes, com base em relatos do pessoal de bordo. O mais comum são queixas sobre falta de educação, xingamentos e desobediência, como a do indivíduo que se recusa a apertar os cintos ou desligar um aparelho eletrônico. O conselho da companhia é manter o tom cordial e tentar resolver o problema com "psicologia". Em casos extremos, os tripulantes são treinado para agir. A regra é a seguinte: se o sujeito parte para a ignorância, os três comissários mais sarados do avião se juntam e partem para cima do incoveniente, prendendo as mãos dele com uma amarra de plástico e velcro.

No quesito agressão entre passageiros, o mais cotado é o famoso safanão na cabeça do vizinho da frente que “se atreveu” a inclinar a poltrona. Mas tem episódios mais graves, como o do cara que entrou no avião depois de todo mundo e só não foi linchado por ter atrasado a decolagem porque a tripulação interveio a tempo.