PARISCOPIO

Uma brasileira em Paris

quarta-feira, agosto 02, 2006

A teoria do marisco

Hoje é parada séria. Sei que não combina muito com este Pariscópio, que, como vocês já devem ter notado, é um espaço esculhambado. Prefiro assim. Já me basta escrever com seriedade e circunspecção no trabalho. Blog é lazer.

Mas, depois de três semanas acompanhando, consternada, o conflito no Oriente Médio, não deu para continuar calada. Resolvi tocar no assunto, mas sem entrar no mérito da guerra. Não vou debater quem começou primeiro, quem tem mais culpa no cartório etc. Quero apenas escrever sobre o marisco.

Não, não tomei nenhum alucinógeno e nem estou viajando na maionese. É do marisco mesmo que estou falando.

Como disse o jornalista Silio Boccanera no programa Sem Fronteiras, da Globonews, na guerra entre o mar e a rocha, quem sofre é o marisco. E no choque entre Israel e o Hezbollah, quem sofre e sangra é o Líbano. O Líbano é o marisco do atual conflito.

Sob o pretexto de exterminar a milícia islâmica que seqüestrou dois de seus soldados, Israel esta dilapidando um país que acabou de se reconstruir de uma terrível guerra civil. Em poucos dias, as bombas israelenses reduziram a pó um trabalho de décadas. Arrasaram estradas e pontes, explodiram usinas e centrais energéticas, esburacaram a pista do aeroporto internacional de Beirute, novinho em folha, derrubaram prédios e casas e ainda mataram centenas de civis. Sendo que muitas, muitas crianças.

E tudo isso justo agora que os libaneses tinham conseguido enfim se recuperar. A economia, embora ainda frágil, estava florindo. Depois de anos com medo, os turistas finalmente voltaram Líbano. Basta ver a quantidade de estrangeiros que tiveram que escapar quando os bombardeios começaram. Milhares de pessoas do mundo inteiro estavam no país para conhecer as paisagens estonteantes e curtir as praias paradisíacas da “riviera” libanesa. Todos tiveram que interromper as férias por causa da guerra. Um golpe duro para o turismo que tanto tempo demorou a se reerguer. Só Alá sabe quando os visitantes vão se sentir seguros para visitar o Líbano novamente. E quanto tempo o estado vai levar para reconstruir os atributos locais.

A ironia, diz o escritor Mohamed Kacimi no jornal Libération de ontem, é que os Estados Unidos – que pregam e impõem a democracia aos países orientais – cruzam os braços justamente diante do massacre do único país realmente democrático do mundo árabe.

“Um país com jornais, revistas, televisões e eleições livres. Um país em que se pode rezar para qualquer deus, em nome de qualquer religião, sem correr o risco de ser linchado. Um país em que o povo pode sair às ruas para manifestar contra o governo sem medo de ser atingido por balas de metralhadoras, como em Damasco, ou de ir para o xilindró, como na Tunísia. Um país onde mulheres podem tomar vinho e fumar publicamente, em pleno Ramada, sem serem importunadas. Um país onde cinema e teatro não são censurados. Um país onde um grupo de jovens atrizes protagonizava, em árabe, a peça Monólogos da Vagina.”

E tanta liberdade, na opinião de Kacimi, só pode ser vista com maus olhos pelos vizinhos muçulmanos. A teoria dele é que Israel está realizando pela segunda vez o sonho secreto de todos os estados árabes da região: destruir essa cidade “mundana, promiscua e pecadora” que é Beirute. Uma espécie de Sodoma dos dias atuais.

A prova, segundo ele, é que os sauditas foram os primeiros a “aplaudir” a intervenção israelense e que, não por acaso, os mísseis a laser americanos lançados no Líbano partem de uma base na Arábia Saudita. “Não por medo dos xiitas, como eles dão a entender, mas por ódio dessa terra singular onde, apesar dos quinze séculos de guerra e perseguições, a voz dos muçulmanos radicais não conseguiu silenciar os sinos da Igreja.”

Independentemente dos interesses por trás do conflito, o fato é que nesta batalha quem sai perdendo de imediato é o marisco. Mas no longo prazo, Israel, seja ele o mar ou a rocha, também perde. E muito. Ao contrário das principais emissoras de TV ocidentais, os canais de notícia árabes, como a Al-Jazira, não poupam seus telespectadores das cenas mais atrozes e chocantes do massacre. A carnificina no Líbano é mostrada sem qualquer censura. E são essas imagens que vão ficar gravadas na memória de jovens e crianças árabes, que vão crescer atormentados por um sentimento de ódio contra os judeus. Ao atacar covardemente civis libaneses, Israel alimenta o sentimento anti-semita no mundo a sua volta e mostra ser seu pior inimigo.

4 Comments:

Blogger Frederico said...

Joana, isso me amedronta. Vejo que os ódios milenares não arrefecem e parece que ninguém quer que esfriem mesmo. Os fundamentalistas muçulmanos não escondem que não querem apenas um lugar em paz na Palestina. Querem, bem além disso, um mundo sem Israel. E não há concessões quanto a isso. Na verdade - e aí o caso nos atinge diretamente, em Paris ou no Rio de Janeiro - querem um mundo regido apenas por suas peculiares interpretações do alcorão. E para conseguir isso, não há limites, nem a própria existência do indivíduo. Causa apreensão, sem dúvida. Pelo outro lado, vem o governo de Israel matando centenas de pessoas, aparentemente de forma indiscriminada, sendo um grande número de crianças. A morte daquelas 37, no início da semana, me deixou bem triste. Pensei em escrever sobre isso no imBLOGlio (você tem ido lá, por sinal?) mas sei que as pessoas não querem ficar lendo apenas sobre morte e tristeza; já escrevi algumas vezes sobre esse tema. Preferi falar de ficção e sensações. E viagens... Sabe, Joana, essas coisas deprimem. Na segunda-feira estava com essas barbaridades na cabeça e melhorei um pouco ao ler uns textos de Mário Quintana, que completaria 100 anos de vida por esses dias. A gente recebe uma lufada de esperança nessas horas. Ainda bem.

9:29 PM  
Anonymous Anônimo said...

Joana
O texto é grande, porém de muito valor. Se você quiser, pode apagar.
Bete

A Paz vem de Deus

Mensagem enviada para a ONU em 10 de julho de 2000
por Divaldo Franco

Herança do primarismo, que ainda predomina em a natureza humana, a guerra é vestígio de barbárie que necessita ser extirpada da Terra.

Quando acossado, esfaimado ou atormentado pelo cio, que lhe faculta a procriação, o animal ataca e mata.

O ser humano, no entanto, preservando essa herança ancestral, também faz-se agressor do seu irmão, vitimado por fatores de profunda perturbação emocional, mental, social, econômica, religiosa, étnica, cultural, demonstrando que ainda não se identificou com Deus, ou se O conhece, o seu relacionamento é superficial ou fanático, não lhe havendo permitido uma perfeita sintonia com a paz que dEle se irradia, e que deve estender-se por todo o mundo.

A paz é resultado da Lei natural – o amor - que vige em toda parte no Universo.

Quando o sentimento de amor, que se encontra na base e na estrutura de todas as Doutrinas religiosas, se apossa dos sentimentos humanos, espalha-se e dirige todas as formas de comportamento, gerando saudável intercâmbio entre as criaturas, que se ajudam reciprocamente, contribuindo para a felicidade umas das outras, evitando qualquer tipo de relacionamento agressivo ou belicoso.

No entanto, porque o desenvolvimento intelectual do ser humano não se fez acompanhado daquele de ordem moral, homens e mulheres, grupos sociais e Nações, ainda não conseguiram libertar-se da constrição do ego, que se lhes torna verdadeiro algoz, propelindo-os para a alucinação preconceituosa de falsa superioridade, que se destaca na conduta social, religiosa, econômica, racial, patriótica e espiritual, impulsionando essas suas vítimas – do egotismo - na direção das calamidades destrutivas, quais as perseguições inclementes que culminam nas guerras hediondas.

Esse egoísmo avassalador é responsável pelo nascimento e crescimento do poder impiedoso que se apresenta na economia pessoal, nacional e internacional, fomentando a miséria de outros indivíduos e povos que lhe jazem sob o domínio insensato e perverso.

Enquanto acumula fortunas incalculáveis, que somente podem ser mensuradas através de equipamentos de tecnologia avançada, centenas de milhões de outros indivíduos estorcegam na miséria, sem a menor dignidade humana, experimentando a fome, a desolação, as doenças pandêmicas e dilaceradoras variadas e a promiscuidade de toda natureza, havendo perdido, inclusive, o direito de existir... Esses bolsões de miséria econômica, que proliferam mesmo nos países super-civilizados, constituem cânceres em desenvolvimento no organismo social, que terminam por degenerar, mais cedo ou mais tarde, a sociedade como um todo, ameaçando a própria vida inteligente na Terra.

Isto porque, os seus gritos de dor e de angústia, mesmo que abafados pelo estardalhaço das paixões desgovernadas naqueles que os oprimem, terminam por alcançar-lhes os ouvidos da alma, atormentando-os e produzindo neles a consciência de culpa, pela responsabilidade que lhes diz respeito nesse clamor resultante do desespero que envolve o planeta em que habitamos.

Ninguém pode ser feliz a sós, ou apenas no seu grupo de fantasia e prazer, porquanto, embora a fortuna em que se refestela, não se pode evadir da presença interna de Deus, exteriorizando-se como libertação da anestesia do desinteresse pelo próximo; das enfermidades, que fazem parte do programa existencial do ser biológico e se encontram ínsitas na fragilidade orgânica; dos conflitos de natureza psicológica; dos desvios do comportamento mental; da solidão; da frustração e da falta de objetivo existencial, que se faz reconhecido como um vazio interior.

O ser humano foi criado por Deus para a glória estelar. Transitando pelas paisagens terrestres, onde desenvolve as potencialidades interiores que são herança divina nele insculpidas, tem por missão melhorar o mundo, que lhe serve de escola, promovê-lo, intercambiar valores morais, culturais, artísticos, tecnológicos e espirituais, trabalhando para a aquisição da paz interna e da plenitude, que deverá espalhar em volta dos passos, propiciando-as a todos que o seguem na retaguarda.

A Humanidade cresce, etapa a etapa, em razão das conquistas ancestrais, que passam de uma a outra geração, sempre enriquecidas pelas experiências de engrandecimento e de sabedoria. Nesse ministério incessante, muitos homens e mulheres se permitem sacrificar: uns na abnegação, outros na pesquisa incessante, outros mais em holocaustos pelos ideais que esposam e são prematuros, portanto, inaceitáveis nos seus dias, abrindo espaços para a sua implantação no futuro... De Sócrates, incompreendido e sacrificado, a Jesus-Cristo, perseguido e assassinado, a Gandhi, a Marthin Luther King Junior, vitimados pela loucura da perversidade, disfarçada de preconceitos e hediondez, o fenômeno criminoso se repete, ameaçando as estruturas sociais e culturais, em vãs tentativas de impedirem que sejam eliminados o sofrimento e a desgraça social e econômica na Terra. Assim mesmo, lentamente embora, as criaturas vêm crescendo espiritualmente e aprendendo a respeitar o pensamento e a ação dos missionários do Bem e do Amor, que se convertem em vexilários da paz e da fraternidade entre os povos, promovendo as criaturas humanas individualmente e a sociedade como um todo.

Dessa forma, quando todos os religiosos se unirem nos fundamentos essenciais das suas diversas Doutrinas – Deus, imortalidade da alma, justiça divina, amor, fraternidade, perdão e caridade em relação ao seu próximo - esquecendo as pequenas diferenças, que decorrem das interpretações e exegeses, haverá o desarmamento interior dos indivíduos e, conseqüentemente, o entrosamento de todos, dando surgimento a um só bloco de seres humanos, harmônico e compacto, materializando o ensinamento de Jesus: Um só rebanho e um só Pastor, que será Deus, não importando o nome que se Lhe atribua, ou a forma sob a qual seja venerado.

Para que esse desiderato se faça alcançado, torna-se urgente a erradicação da miséria moral e as suas conseqüências imediatas: a social, a econômica, que vitimam e enlouquecem quase três quartas partes da Humanidade.

Os governos compreenderão, por fim, que se torna uma necessidade de emergência a elaboração de programas de salvação, como a educação, a saúde, o saneamento de regiões infestadas, o trabalho digno, sem a utilização de mão de obra escrava, a recreação e os cuidados especiais com a criança, trabalhando-a moralmente, como medida preventiva, para que se evite o surgimento no futuro de cidadãos perversos e vingadores. Porquanto, tudo aquilo que a sociedade no momento negar aos seus coevos, eles o tomarão logo possam pela violência, quando as circunstâncias lhes permitirem.

Educar, portanto, as novas gerações, dignificando-as, é terapia moral que prevenirá o porvir das calamidades que hoje assolam as ruas das pequenas e grandes cidades do mundo, das aldeias ou das megalópoles que se tornam, a cada dia, mais vítimas de insuportáveis agressividades e violências, transformadas como se encontram em palcos de guerras urbanas, embora vicejando a paz...

Por outro lado, o trabalho de conscientização política dignificadora, que os religiosos do mundo poderão empreender, evitará que personalidades psicopatas e extravagantes, portadoras de programas de extermínio e de crueldade, se apossem do poder e repitam as tragédias de canibalismo, de genocídio, de vandalismo, de guerras cruéis e ininterruptas, conforme vêm acontecendo.

O indivíduo religioso e espiritual tem o dever de descobrir que a sua vida somente tem um sentido: servir à Humanidade. E nesse mister, é convidado a empenhar-se para alterar o contexto da sociedade em que vive, mesmo que lhe seja necessário o sacrifício como forma de extirpar do mundo o crime, as agressões, o fanatismo de qualquer expressão, fomentadores das pequenas e grandes guerras que espocam diariamente em toda parte.

As tensões sociais e humanas, conseqüentemente desaparecerão, quando as criaturas se desarmarem e se amarem, se derem as mãos e intercambiarem os sentimentos de solidariedade e de amor, porquanto essa é a recomendação de Krishna, de Moisés, de Buda, de Lao-Tseu, de Jesus-Cristo, de Mahomé, de Lutero, de Allan Kardec, de Baha-ú-la e de todos aqueles que trouxeram para a Humanidade a Mensagem libertadora do PAI CRIADOR, em favor de todos os Seus filhos, portanto, irmãos entre si.

Com esse propósito no imo dos sentimentos e da mente racional e lúcida, desaparecerão os focos de atritos, de paixões religiosas, de dominações políticas arbitrárias, de perseguições de todo jaez, e a paz lentamente estenderá o seu psiquismo de harmonia nos indivíduos, nos grupos sociais, nos povos e em todas as Nações da Terra.

4:19 PM  
Blogger Frederico said...

A Bela Carinhosa Dona (desse) Espaço Francês Gostou Hoje, Imagine!, (do meu) Jeito. Linda, Minhas Notas Oram Por Querer Restar Suas! Tome !!! Use-as!! Valeu ?! :-)

6:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olá, Joana, cheguei ao seu espaço, depois que li uma matéria em O Globo, sobre um post que você fez, antes do jogo Brasil x França, durante a Copa. Gostei tanto, que coloquei seu link no meu blog. É, eu também brinco de blogueiro... (rs).
A sua reflexão sobre essa tenebrosa guerra entre Israel e Hizbollah é oportuna, porque chama atenção para dois fatos sérios: primeiro, o Líbano está mesmo como o marisco, na briga entre o mar e o rochedo, para tristeza não só dos libaneses, mas de toda a humanidade. Depois, os judeus vivem, nos quatro cantos do mundo, lembrando do holocausto, mas, não sei se o que eles estão fazendo no Líbano tem muita diferença. Se amanhã, as pessoas mostrarem-se temerosas e, por causa disso, tomarem atitudes anti-semitas, acho que eles não terão muito o que reclamar. Embora, como você, não deseje entrar no mérito da questão, ou procurar culpados para o milenar (re)início dos conflitos.
Um abraço e um bom fim de semana.

6:44 PM  

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