PARISCOPIO

Uma brasileira em Paris

quarta-feira, julho 26, 2006

Encontro com Iemanjá

Antes de me transformar em quiche lorraine bem passada, fugi do forno parisiense. Me mandei para a casa dos sogros, nos arredores de La Rochelle, cidade que fica no litoral atlântico da França. A condição para encarar o weekend família era passar um dia na famosa Île de Ré (pronuncia-se Rê). Desde que comecei a freqüentar o lar dos progenitores do meu amoreco, venho implorando por um passeio na ilha, espécie de paraíso de ricos e famosos franceses, que fica a apenas 20 minutos de carro da casa deles. Mas, toda vez que eu tocava no assunto, ouvia uma boa desculpa para não irmos. Pedágio caro, engarrafamentos intermináveis, gente demais etc. etc. etc. Desta vez, não quis nem saber de “mas, mas”... Disse ao Marc:

– Quer ver papai e mamãe??? Então avisa – antes de comprar a passagem de trem!!! – que vamos à ilha de Ré! Sine qua non! É pegar ou largar!

E assim, por livre e espontânea pressão, fomos todos, alegres e sorridentes, passar o dia na ilha. Como eu suspeitava, não tinha engarrafamento nenhum. Afinal, o principal meio de transporte em Ré é a bicicleta. Andar de carro por lá é considerado cafona, coisa de quem está totalmente “out”, por fora. Quanto mais velha e surrada for sua bike, mais “in” você é. Pedalar uma sucata enferrujada na ilha de Ré equivale, digamos assim, a dirigir uma Ferrari Enzo em Saint Tropez. Entendeu?

Mas eu, que não sou uma nora tão desnaturada assim, não ia obrigar meus queridos sogros a encarar 50 kilômetros de pedalada. Preferi enfrentar os olhares desdenhosos dos ciclistas e da população local. Se bem que, como diz o ditado, quem desdenha quer comprar. Aposto que aquele desprezo todo escondia uma pontinha de inveja: enquanto eles penavam para fazer rodar pedais enferrujados sob um sol de rachar, a gente passava no bem-bom de um carro confortável e com ar-condicionado.

Seguimos assim, tranqüilos e fresquinhos, durante 25 quilômetros, até o outro extremo da ilha, que é bem fina e comprida. Escolhemos ficar na praia “Conche des Baleines”, ao lado do Phare des Baleines (farol das baleias), o principal ponto turístico da ilha. O guia dizia que é a praia mais bonita da região, mas confesso que fiquei meio decepcionada ao ver um monte de blocos gigantescos de cimento (blockhaus), construídos pelos alemães durante a Segunda Guerra mundial. Além de feios em si, eles estavam todos pichados. Logo saquei que o segredo é sentar de costas para os mostrengos e abstrair que eles existem. Basta ter poder de abstração e fica tudo lindo!

Superada a decepção inicial, fui direto cair naquele mar delicioso. Uma sensação que eu sempre valorizei, mas que passei a venerar depois que fui morar em Paris, sobretudo em tempos caniculares. Nooooossa, não queria sair da água por nada neste mundo. Mas a sogrinha tinha preparado um pique-nique show de bola e eu não ia fazer desfeita. Comemos e depois digerimos dando uma bela caminhada até o outro lado da praia. Passamos por vários pontos nudistas. Cara, que festival de barangos e barangas!!! Cheguei à conclusão de que só fica pelado quem é feio, para evitar situações constrangedoras, if you know what I mean...

Para encerrar o dia de dolce farniente, fomos tomar um drink no porto de Saint Martin. A cidadezinha é meio que a capital da ilha e concentra a maioria dos cafés, restaurantes e bares. Parece que à noite é pura badalação, mas infelizmente não deu para conferir. Tivemos que voltar antes de anoitecer, para “evitar os engarrafamentos”.

Sogrinha lambuzando sogrão de protetor solar
Fim de tarde no porto de Saint Martin
Gostamos tanto que, no dia seguinte, resolvemos sobrevoar a ilha. O sogrão pilota avião monomotor.
Farol das Baleias.
Praia da Patache, freqüentada pelos ricos e famosos. Dá pra sacar pela quantidade de barcos e jet skis, né?

8 Comments:

Blogger Frederico said...

Joana, nada como fotos de uma gostosa ilha e suas praias (com um mar delicioso - muito bom né?!?!) depois daquele relato sobre a fornalha de Paris... Eu sei exatamente o que você sentiu ao não querer sair da água do mar... putz, é gostoso demais ficar ali, de bobeira, só pensando em como deus nos foi bom em nos deixar estar ali curtindo. :-) Você deve saber que nosso inverno está mais quente que de costume. Há uma massa de ar quente sobre o Brasil há semanas e as praias daqui do Rio vivem cheias. Ou seja, não há inverno! Semana passada fui conhecer Buenos Aires e lá tampouco estava friiiio. Cheguei com 13 graus e depois subiu um pouco. Acho que ficou oscilando, durante o dia, nuns 16 graus... ou seja, inverno, inverno mesmo, nada. Aí pergunto: onde foi parar o inverno deste mundo? O eixo vertical da Terra mudou? Somos todos verão, ou veranico, como está sendo chamado aqui? Fico só imaginando nosso próximo janeiro... “Rio 50 graus”, cantará a Fernanda.

8:59 PM  
Anonymous Anônimo said...

Que vidão, hein!!! Eu tô partindo para o México no próximo domingo. Boas férias.

5:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

Joana
Na próxima vez você leva sua bicicleta Ferrari... epa... ferrada (rarara).
Bete

5:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bom saber que a minha Monark 84 ainda tem utilidade...

7:58 PM  
Blogger Altamir said...

Jo, v está se superando como adorável politicamente incorreta.

9:48 PM  
Blogger Joana Calmon said...

Pois é, Frederico, ouvi dizer que o inverno não deu as caras no Rio e que so agora começou a refrescar um pouquinho. Sei que não é coisa boa, que a terra esta pirando, mas, ca entre nos, adoraria viver sem inverno... hehehe. Mas, falando sério, ouvi dizer que as mudanças climaticas, pelo menos aqui na europa, não vão elevar as temperaturas no inverno, mas esfria-las ainda mais. O efeito anunciado por estas bandas é levar as temperaturas ao extremo. Ou seja: verões cada vez mais torridos e invernos cada vez mais gélidos. Ja pensou???

11:55 AM  
Blogger Joana Calmon said...

Cara Bete, bicicleta "ferrada" é elogio! A Monark 84 do Daniel é um Porsche perto da minha "gazelle" (marca holandesa), ano 71. A coitada é tão dura e pesada que deve ser mais rapido fazer a volta da ilha a pé. Mas sem duvida faria o maior sucesso.

12:03 PM  
Blogger Joana Calmon said...

Teresa: Indo pro México e depois eu é que tenho vidão??? O duro vai ser escolher entre a costa do Pacifico (Puerto Escondido etc.) e o mar do Caribe (Playa del Carmen, Tulum...). A vida é mesmo cruel. Bjs e boa viagem!

12:10 PM  

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