PARISCOPIO

Uma brasileira em Paris

segunda-feira, agosto 21, 2006

SACRILEGIO!!!!


Apreciadores das boas coisas da vida, arrepiai-vos! Os europeus estão enchendo o tanque com vinho francês!!! Eu é que não queria estar no Olimpo numa hora destas. O deus Baco deve estar enfurecido!

Mas como um sacrilégio desses está sendo autorizado em plena pátria do vinho??? Culpa da crise, oras. Com a queda vertiginosa do consumo e dos preços da bebida, os vinicultores da França se viram obrigados a transformar parte de sua produção em combustível.

A crise no setor é tão grave que, no ano passado, alguns supermercados franceses chegaram a vender garrafas de vinho mais barato que água mineral. Desesperados, centenas de produtores foram às ruas protestar. Resultado: para tentar levantar os preços irrisórios, e regular o mercado, o governo francês pediu à Uniao Européia autorização para destilar o equivalente a mais de 150 milhões de garrafas. E não foi só vinho de má qualidade, não. Os bem cotados Bordeaux e Cotes du Rhône também viraram álcool.

A transformação do vinho em etanol é uma tendência em toda a Europa. Em 2005, cerca mais de 3 bilhões de litros do produto foram tranformados em combustível. Por enquanto essa energia é utilizada basicamente em máquinas da indústria. Mas com tanto vinho sobrando, não deve demorar muito para que a prestigiada bebida seja saboreda também por motores de carros.

Na França, aliás, isso já esta acontecendo. O etanol produzido hoje no país é vendido a destilarias e usado como aditivo. A proporção da mistura com a gasolina ainda é baixa, de 1%, mas deve aumentar gradativamente nos próximos anos. O problema, segundo especialistas, é que o teor alcóolico da uva é sete vezes inferior ao da beterraba (normalmente utilizada nesse processo). Mas já há pesquisas sendo feitas para desenvolver técnicas de destilação capazes de elevar os níveis de álcool a partir do vinho.

Para entender a crise no setor vinícola europeu, basta olhar para a concorrência acirrada de produtores emergentes como a Austrália, Chile, Estados Unidos e Africa do Sul, que oferecem vinhos cada vez melhores por preços muito mais acessíveis, sobretudo com a valorização do euro.

Em 2004, a Europa viu suas exportações de vinho cair cerca de 5% de um ano para o outro. Como se não bastasse, os europeus não se fazem de rogados e bebem, sem complexo, garrafas vindas do novo mundo. Com isso, as importações crescem num ritmo médio de 10% ao ano.

Aqui na França, além da dificuldade de concorrer com esses vinhos estrangeiros, bons e baratos, ainda tem um fator interno para piorar a situação: os próprios franceses estão bebendo cada vez menos. Em 1960, eles consumiam em média incriveis 100 litros por ano ! Agora esse numero caiu quase que pela metade.

Uma das causas dessa queda no consumo é (acreditem!) o programa de prevenção de acidentes nas estradas, que aumentou os controles de embriaguez e endureceu as penas. Ou seja: o medo do bafômetro fez com que muita gente aqui abandonasse o velho hábito de beber (vinho, e não água!) durante as refeições. Principalmente em restaurantes.

Claro que os franceses continuam bebendo MUITO. Mais de 50 litros por ano, o que lhes garante o primeiro lugar disparado na lista dos maiores consumidores do mundo. E, embora muitos aqui encarem a transformação do vinho em etanol como uma medida necessária para diversificar a atividade dos vinicultores e garantir a sua sobrevivência, isso não torna menos dolorosa a idéia de dividir os ancestrais prazeres do vinho com o motor de um carro.

2 Comments:

Blogger Frederico said...

Ora, ora, ora... não tinha a menooor idéia sobre isso. Mas que coisa hein... Não imaginava que a coisa estivesse nesse nível. Já vi reportagens de enólogos franceses comentando vinhos da américa (daqui e de "lá") mas não sabia mesmo que já incomodam tanto aí. Agora, a questão toda é o preço. Bebi na semana passada uns vinhos BONS franceses. Caramba, o sabor é tão diferente... mais... suave, perfumado. Mas, certamente, bem mais caro. Aí, de fato, passa-se para o novo mundo. Enfim... tim tim.

2:51 PM  
Anonymous Anônimo said...

Joana
Se precisarem na nossa tecnologia... é só falar.
Bete

7:26 PM  

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